Por Jânsen Leiros Jr.
Vivemos
em um país de ilusões bem ensaiadas e de combinação velada. Ninguém admite que
fez tal acordo, mas todos sabem que funciona assim. Fazemos de conta que tudo
funciona e que há “ordem e progresso”. Mas a verdade é totalmente outra, pois o
Brasil tornou-se o retrato mais fiel do 'faz de conta'.
Faz
de conta que somos uma democracia, quando na verdade temos
um sistema refém de interesses subterrâneos e escusos. Faz de conta que
temos um empresariado competente e inovador, quando uma significativa parcela
do setor enriquece à sombra de subsídios e favores estatais. Faz de conta
que o cidadão é honesto, enquanto sonega o que pode, não faz o que deve, e ainda
se orgulha de "dar um jeitinho" e de “desenrolar uma parada”. Faz
de conta que o Estado trabalha pelo povo, enquanto legisla em causa própria,
apesar das necessidades da nação. O Brasil é o país onde a esperteza impera
todos os dias. Mas ao ocaso, o malandro não passa de um otário. Sabotador de si
mesmo e do outro.
Vivemos
em um ciclo vicioso de desonestidade espalhada, onde o conceito de moralidade
se esfarelou diante do relativismo conveniente e personalista. Quem está no
poder usa a máquina pública para enriquecer; quem está fora sonha e luta para
chegar lá e fazer o mesmo. Os empresários não investem em inovação ou em
capacitação de quem pode ampliar sua produtividade. Em vez disso, gasta-se em proximidade
com os políticos capazes de garantir privilégios e monopólios protegidos pelo
Estado. O cidadão comum, por sua vez, denuncia enfaticamente a corrupção, mas
compra produtos piratas, fura filas, aceita troco errado e não vê problema em burlar
regras sempre que possível. É um jogo em que todos querem levar vantagem, sem
perceber que tal comportamento nos arrasta para um abismo possivelmente sem volta.
Não
se constrói uma nação baseada na malandragem. Enquanto continuarmos a cultuar a
esperteza em detrimento da integridade, permaneceremos amarrados ao atraso e
patinando na lama. A noção de bem coletivo perene foi trocada pelo egoísmo
institucionalizado e urgente. O Estado não entrega, a população sonega e as
corruptelas nossas de cada dia, resultam em um país que não sai do lugar. Se a
regra subliminar é enganar para sobreviver, estamos inevitavelmente condenados
a um futuro de mediocridade permanente e irreversível.
O
Brasil não será o país com o futuro que sonhamos, enquanto permanecer atolado na
desonestidade, conveniência e autoengano. Quem pensa que leva vantagem na esperteza
precisa entender: quando todos são espertos, todos são otários. Porque, no
final, ninguém ganha, e o que se perde é uma sociedade minimamente viável. O
preço da malandragem é a falência moral de uma nação que já não sabe distinguir
progresso de decadência, e que sonha chegar ao “céu” mesmo que “abraçada ao
capeta”. O Brasil não sairá da lama enquanto insistir na ilusão de que
esperteza é sinônimo de vantagem. No fim, o preço é a própria nação.
Digitar o quê, meu irmão? Tudo aqui já foi dito, e muito bem dito. A.: Baixinho
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